Alguns estados americanos estão criando regras para que o parto cesárea não seja mais feito antes das 39 semanas. Saiba por que é importante entrar em trabalho de parto e veja quais são os riscos de agendar a data da cesárea - para você e para o seu filho também
Ana Paula Pontes e Isis Coelho
Sim! Alguns dias fazem muita diferença na vida do bebê. É claro que existem exceções quando a gestação passa das 39 semanas ou, então, quando há realmente um motivo médico para que umacesárea seja feita. No entanto, o aumento exponencial do número de cesáreas eletivas (aquelas realizadas sem nenhuma necessidade), tendo como consequência bebês comproblemas, tem engatilhado uma série de alertas dos médicos sobre essa irresponsabilidade – no Brasil e no exterior.
Nos Estados Unidos, segundo noticiou a Time, hospitais na Georgia, Flórida e Ohio vêm discutindo sobre o parto cirúrgico feito antes de 39 semanas. No Texas, por exemplo, para limitar os partos antes dessa época, uma legislação começou a entrar em vigor no dia 1o deste mês. Mas será que esse é mesmo o melhor caminho?
Para Alexandre Pupo Nogueira, ginecologista e obstetra do Hospital Sírio-Libanês (SP), esse tipo de lei significa um descrédito total da medicina. “Não deveria ter uma norma, e sim moral de todos os médicos. É ensinado em qualquer faculdade de medicina os aspectos fisiológicos do bebê na gravidez (e os riscos de ele nascer fora da hora). Então qualquer cesárea agendada sem razão e que resulte em alguma situação com o bebê é passível de processo”, diz. E reforça: “O que acontece é que, na maioria das vezes, por conveniência de algumas mães e médicos sempre há uma justificativa, mesmo que errada.”
Segundo Eduardo Zlotnik, ginecologista e obstetra do Hospital Albert Einstein (SP), apesar do viés desse tipo de ação dos hospitais americanos ser mais no sentido de proteção e responsabilidade legal, a consequência é boa para o bebê. “Criou-se uma cultura de que o bebê está pronto com 37 semanas, porque para fins de trabalhos científicos não consideramos prematuro a partir dessa época. Só que o momento ideal de ele nascer é quando a mulher entra em trabalho de parto, nunca antes disso”, reforça Alexandre.
Nos Estados Unidos, segundo noticiou a Time, hospitais na Georgia, Flórida e Ohio vêm discutindo sobre o parto cirúrgico feito antes de 39 semanas. No Texas, por exemplo, para limitar os partos antes dessa época, uma legislação começou a entrar em vigor no dia 1o deste mês. Mas será que esse é mesmo o melhor caminho?
Para Alexandre Pupo Nogueira, ginecologista e obstetra do Hospital Sírio-Libanês (SP), esse tipo de lei significa um descrédito total da medicina. “Não deveria ter uma norma, e sim moral de todos os médicos. É ensinado em qualquer faculdade de medicina os aspectos fisiológicos do bebê na gravidez (e os riscos de ele nascer fora da hora). Então qualquer cesárea agendada sem razão e que resulte em alguma situação com o bebê é passível de processo”, diz. E reforça: “O que acontece é que, na maioria das vezes, por conveniência de algumas mães e médicos sempre há uma justificativa, mesmo que errada.”
Segundo Eduardo Zlotnik, ginecologista e obstetra do Hospital Albert Einstein (SP), apesar do viés desse tipo de ação dos hospitais americanos ser mais no sentido de proteção e responsabilidade legal, a consequência é boa para o bebê. “Criou-se uma cultura de que o bebê está pronto com 37 semanas, porque para fins de trabalhos científicos não consideramos prematuro a partir dessa época. Só que o momento ideal de ele nascer é quando a mulher entra em trabalho de parto, nunca antes disso”, reforça Alexandre.
Tem que esperar, sim!
Logo na primeira consulta com o obstetra, você fica sabendo em qual provável semana seu bebê vai nascer, certo? E aí já começa a planejar o enxoval, a calcular de que signo ele vai ser, ver se o aniversário dele será perto de algum feriado... Até aí, tudo bem. O problema é que muitas mulheres acabam usando essa estimativa para agendar a data do parto e fazer a chamada cesárea eletiva. Com medo do parto normal, por falta de orientação profissional ou até mesmo por comodidade, a data do nascimento, muitas vezes, acaba sendo decidida previamente. E, se por um lado isso ajuda a família a organizar a chegada do bebê, por outro, a data fixa pode levar ao parto antes do tempo ideal porque não se pode descartar um possível erro no cálculo gestacional.
“É importante esperar que a mulher entre em trabalho de parto pois isso indica a maturidade do bebê e evita maiores complicações tanto para a mãe quanto para a criança”, afirma Wladimir Taborda, doutor em medicina pela Universidade Federal de São Paulo, colunista da CRESCER e autor de A Bíblia da Gravidez (CMS Editora). Se o parto for antes da hora, a criança pode desenvolver problemas respiratórios e, até mesmo, ter de passar alguns dias em uma UTI neonatal para compensar o período em que deveria ter ficado no útero.
Uma recente pesquisa mostra consequências ainda mais graves. Conduzido por cientistas da March of Dimes Foundation, organização não governamental norte-americana que encabeça diversas campanhas contra o nascimento prematuro nos Estados Unidos, o estudo analisou 46 milhões de partos. Os pesquisadores concluíram que o risco de morte é maior para os que nascem antes da 39ª semana em comparação com aqueles que chegam até o final da gestação. A taxa de mortalidade infantil foi de 3,9 para cada mil bebês nascidos vivos a partir da 37ª semana, e de 1,9 para na 40ª semana. Como você viu, mesmo que ele não seja prematuro (ou seja, nasça antes da 37ª semana), não significa que esteja pronto. E, como a cesárea é uma cirurgia, a mãe também corre riscos, como infecção, laceração acidental de algum órgão abdominal, trombose, embolia pulmonar ou hemorragia.
Ninguém está dizendo para se deixar de fazer cesáreas. Esse é um procedimento que salva vidas mas, segundo especialistas, só deve acontecer raramente (veja o quadro) . Em casos de diabetes gestacional ou problemas de pressão arterial, o médico também precisa avaliar. Caso vocês cheguem à conclusão que a cesárea é mesmo necessária, espere pelo menos o seu bebê indicar que quer nascer. O ideal é aguardar pelas contrações (que podem acontecer até a 42ª semana), sempre com acompanhamento do obstetra.
Quando a mulher entra em trabalho de parto, o bebê passa por uma preparação para nascer que começa com as contrações uterinas. Elas funcionam como um alerta para a criança, que passa a liberar substâncias para o amadurecimento final do próprio organismo, como o hormônio corticoide, que age no pulmão – se você estiver em trabalho de parto e for preciso uma cesárea de emergência, a criança já vai estar com o organismo mais pronto. Além disso, o seu corpo também estará mais preparado para amamentar graças a hormônios liberados no trabalho de parto. A segunda etapa ocorre no parto. Quando o bebê passa pelo canal vaginal, os pulmões dele sofrem uma compressão que ajuda a eliminar líquidos e fluídos que possam causar algum desconforto respiratório posterior. É por tudo isso que não vale a pena agendar uma cesárea.
Se você ficou aflita porque agendou o parto do seu bebê ou se estava pensando nessa possibilidade, tente manter a calma: você ainda tem tempo. A primeira atitude é conversar com seu companheiro e com o médico que acompanha você. Diga que deseja esperar pelo trabalho de parto. Como você viu, desde que suas condições de saúde e do bebê estejam normais, não há motivo para desistir. E aproveite para discutir com ele sobre o tipo de parto. Se você não ficar convencida que ele vai tentar o parto normal, veja se não é o caso de procurar a opinião de outro especialista ou até trocar de médico. “Bons profissionais estimulam uma segunda opinião e, inclusive, essa pode ser uma prática saudável para ajudar a diminuir a incidência de cesáreas eletivas no país”, afirma Taborda.
A CESÁREA É INDICADA QUANDO... • Há sofrimento fetal ou o bebê tem problemas de crescimento. • Há placenta prévia (quando essa se interpõe entre o bebê e o colo do útero) ou deslocamento prematuro de placenta. • Existe uma obstrução vaginal (tumor). • A mãe tem herpes genital e a lesão está ativa até um mês antes do parto. • Em casos de gestações múltiplas (não é regra). • A abertura da mãe for pequena para o tamanho do bebê. • A criança está na posição atravessada ou deitada e não foi possível virá-la para a correta. |
Por que tantas cesáreas?
O Brasil, infelizmente, é campeão nesse ranking. Enquanto para a Organização Mundial da Saúde o índice aceitável seria 15%, dados do Ministério da Saúde mostram que no Sistema Público de Saúde ela representa 37% dos partos, e pasme: em alguns dos hospitais mais renomados de São Paulo, o número pode ultrapassar a casa dos 90%, segundo dados do Sistema de Informações de Nascidos Vivos da Prefeitura de São Paulo. São multifatoriais as causas que justificam esses altos números.
É verdade que existem casos de mulheres que já chegam na primeira consulta dizendo que não querem tentar parto normal porque ouviu da prima de um amigo que uma mulher teve muita dor durante o parto normal. “O médico não pode se calar diante dessa situação. É preciso conversar com o casal e mostrar que muitos dos temores são infundáveis, e isso deve acontecer durante todo o pré-natal”, afirma Eduardo Souza, obstetra, da Universidade Federal de São Paulo. Mas não se pode dizer que as gestantes são as únicas responsáveis por essa situação.
Os estudos, aliás, contradizem essa percepção. Eles mostram que o parto natural faz parte dos planos da maioria no início da gestação, mas elas acabam desistindo da ideia por falta de informação ou desestímulo do médico que a acompanha ou familiares. Luciana Ivanike Isolani, 30 anos, conta que durante sua primeira gestação nem cogitou a possibilidade de tentar o parto normal. “O médico me desencorajou durante todo o pré-natal dizendo que eu não teria dilatação suficiente. Me senti completamente incapaz.”
Um motivo que explica esse grande número de cesáreas é que esse é um procedimento em que os médicos se sentem no controle da situação, justamente por ser uma cirurgia. “Os profissionais se sentem mais seguros”, afirma Gene Declercq, professor doutor do Departamento de Ciências da Saúde Comunitária da Universidade de Boston (EUA). Outro aspecto é a praticidade, tanto para as mães quanto para os obstetras. O médico consegue se organizar para fazer mais de um parto em um só dia, e não ficar horas acompanhando um único trabalho de parto. “Não é raro que a operação aconteça em dias úteis e em horário comercial, o que reforça a comodidade do agendamento. É comum ocorrer picos de cesáreas em vésperas de feriado”, afirma Maria Esther Vilela, obstetra, coordenadora do Departamento de Saúde da Mulher do Ministério da Saúde.
E ainda tem um dos pontos mais polêmicos, o fator financeiro. “Por ser uma cirurgia, a cesárea gera um custo maior e, consequentemente, paga melhor”, afirma Souza. A Agência Nacional de Saúde Suplementar afirmou à CRESCER que o fator cultural, ou seja, a mulher não querer o parto normal, é o determinante para o cenário atual, e não apenas a remuneração dos médicos. Mas, com a data agendada, o especialista tem outra vantagem: ele não precisa perder as consultas do consultório.
Para mudar esse cenário, nos últimos anos a humanização dos partos passou a ser discutida por diferentes setores da sociedade. De acordo com Declercq, para que seja realmente significativa, a mudança deve ir além de questões estruturais. “Colocar fotos bonitas na parede e melhorar a cortina do quarto não é suficiente para definir a humanização do parto. É preciso que os profissionais transformem suas práticas, respeitando as decisões da mulher, as encorajando e interferindo somente quando necessário.” Para que você faça a melhor escolha, informação e confiança no seu médico é que vão fazer a diferença. Não queira nada menos que o melhor para você e para o seu bebê.
BENEFÍCIO DO PARTO NORMAL PARA A MÃE Você já conhece vários motivos, não é? Uma pesquisa norte-americana revelou mais um: mulheres que entram em trabalho de parto e têm os bebês pelo método natural se sentem mais seguras e tranquilas do que as que fazem cesárea. |
Outras fontes: A Bíblia da Gravidez (CMS Editora); Arthur Habib, anestesista do Hospital São luiz (SP); Melania Amorim, professora de ginecologia e obstetrícia da Universidade Federal de Campina Grande (PB).; Martha Oliveira, gerente geral de regulação assistencial da Agência Nacional de Saúde Suplementar
Fonte Revista Crescer:
http://revistacrescer.globo.com/Revista/Crescer/0,,EMI263731-10584,00-ESPERE+SEU+BEBE+QUERER+NASCER.htmlFonte: Revista Crescer -