"Caminhante, tuas pegadas são o caminho (...)
Não há caminhos; faz-se o caminho ao andar".

terça-feira, maio 24, 2011

40 desafios que seu filho vai enfrentar até completar 8 anos

CRESCER ouviu 16 especialistas e mostra, nas próximas páginas, cinco novidades que vocês vão descobrir juntos em cada fase

Expectativa. Essa palavra resume bem como os pais se sentem em relação ao desenvolvimento do filho. De uma hora para outra, você vira analista de curvas de crescimento, descobre um mundo de palavras novas (confesse, mecônio – nome do primeiro cocô que o bebê faz – não intregrava o seu vocabulário) e passa a ansiar por toda conquista. Todos os dias surge uma nova, mas algumas merecem mais atenção. CRESCER listou 40 desafios pelos quais seu filho vai passar desde que nasce até completar 8 anos e mostra o estímulo certo que você pode dar em cada um deles, sem exagerar. Não custa lembrar que cada criança tem seu tempo e que, enquanto uns andam primeiro, outros vão falar. Tudo bem se seu filho pular alguma dessas etapas ou se encontrar muita dificuldade em algumas delas. O importante é que você esteja ao lado dele. Afinal, esses desafios vão prepará-lo para a vida adulta e mostram que a criança está se desenvolvendo bem. As oportunidades e o amor que você oferece, somado ao potencial que a criança tem de absorver experiências (e essa geração high-tech é ainda mais rápida), é uma combinação inspiradora para ela aprender. Corra para as próximas páginas e depois para o nosso site, onde preparamos um material especial com mais 40 dicas incríveis!

Fabiana Devin
RETRATOS
Você vai ver esse bebê crescendo nas próximas páginas. Ela é a Marina, filha da fotógrafa Fabiana Devin, que não perde uma oportunidade para registrar o crescimento da menina, hoje com 7 anos
o a 1 ano
Perceber tudo o que acontece Desde a gravidez, o bebê compreende o que se passa ao seu redor. No útero, reconhece a voz da mãe. Uma pesquisa feita com 60 mulheres no último trimestre de gestação mostrou que assim que as grávidas começaram a ler poemas, o batimento cardíaco dos bebês desacelerou, sinal de que estavam prestando atenção naquele som. Com 4 meses e meio, seu filho presta atenção quando alguém fala o nome dele. Aos 7, diferencia rostos conhecidos e estranhos e prefere segurar um objeto que tenha o cheiro da mãe do que o de outra mulher. Como os movimentos estão mais desenvolvidos, aquela expressão de interesse vai aparecer sempre – livros infantis são um convite, espalhe-os pela casa. A partir do oitavo mês, ele entende o significado da palavra “não” pela mudança no tom de voz e na feição dos pais e sabe quando você escondeu um objeto dele.
Adaptar-se para ficar em pé Um dos requisitos para conseguir dar os primeiros passos é aprender a sentar (a primera etapa desse processo). Com 5 meses, ele ainda precisa da sua ajuda, mas aos 7 já senta sozinho. Para estimulá-lo, você pode colocar o bebê sentado no chão, com almofadas nos lados. Se ele cair, ponha-o sentado de novo. Escolha uma superfície firme para facilitar o equilíbrio – o sofá é macio, mas não ajuda. Dentro de dois meses, ele vai dar sinais que quer andar. A criança começa a se projetar para frente a fim de alcançar alguma coisa que chame sua atenção. O próximo passo é se apoiar nos braços e engatinhar, mas alguns bebês podem pular essa fase (os médicos também afirmam que hoje as crianças demoram mais para engantinhar porque ficam menos tempo no chão). Quando sentir firmeza nas pernas, seu filho vai se levantar e dar os primeiros passos se apoiando nos móveis. Fique de um lado da sala e chame-o para se encontrar com você. Usar brinquedos ou espelhos também funciona, eles atraem a atenção da criança.
Dar um sorriso quando quer Você vai achar que viu seu filho recém-nascido sorrindo e alguém vai falar que bebês não riem tão cedo. Não acredite. Eles sorriem, sim, desde o nascimento, mas não de forma consciente. O sorriso é uma resposta automática do sistema nervoso a um estímulo prazeroso – como quando ouve a voz de alguém conhecido ou recebe um carinho. Com 4 meses, ele ri quando sente vontade (vale fazer muitas cócegas e até dançar com ele no meio da sala!). Além de ser uma delícia de ouvir, essa interação é sinal de um bom desenvolvimento social. Garantia de sucesso nas festinhas!
Entender a ausência da mãe Seu filho vai ter uma sensação parecida com medo por volta dos 8 meses, a mais que conhecida angústia da separação. O nome é mesmo angustiante, mas a explicação é simples. A criança, que até então achava que ela e os pais eram a mesma pessoa, percebe que eles são seres distintos e passa a ter medo de ficar longe de vocês. A brincadeira do cadê-achou e jogar repetidas vezes um objeto no chão ajudam ele a entender que tudo que vai, volta, ou seja, você pode se ausentar, mas sempre vai retornar. Quando sair para trabalhar, por exemplo, diga que você tem que ir e regressa assim que possível.
Conhecer novos sabores Você sabia que o mordedor e outros objetos que seu filho leva à boca estimulam o desenvolvimento do paladar? Quando ele “prova”, percebe que cada coisa tem um gosto diferente, e assim nasce o desejo de continuar experimentando. Aos 7 meses, ele distingue entre os sabores doce, salgado, amargo e azedo. Pesquisas mostram que eles preferem o doce porque é o que mais se assemelha ao leite materno – mas nada de açúcar para criança. Toda vez que ele provar um novo alimento, não espere reação diferente senão a careta. Antes de ser prazeroso, a textura, o cheiro e o gosto são esquisitos. Aos poucos, o estranhamento desaparece. Para facilitar a aceitação, não exagere nos temperos nem misture mais de quatro tipos de alimentos por vez nesse começo.

Fabiana Devin
1 a 2 anos
Andar com firmeza É fácil para quem tem domínio, mas para a criança funciona como uma engrenagem: ela precisa manter a coluna ereta, ter noção de espaço, controle muscular e equilíbrio além de movimentar os pés. Por exigir tanto é que os especialistas estimam que apenas 20% dos bebês caminham com firmeza quando completam 1 ano. Os primeiros passos sem apoio, em geral, acontecem por volta dos 15 meses. Isso não vale para prematuros, que costumam andar tardiamente, nem para bebês obesos que, como mostram as pesquisas, têm dificuldade porque o excesso de peso compromete a coordenação motora. Para todas, porém, a regra é tentar, sempre. Como a curiosidade dele agora é maior, mostre interesse e vasculhem, juntos, cada canto da casa, permitindo que ele descubra novas texturas com os pés e as mãos. Se cair ou tropeçar, o alerta deve vir em tom carinhoso para não desestimular.
Falar as primeiras palavras Quem não se orgulha das primeiras sílabas que o filho babulcia? Segure suas expectativas: o repertório de palavras gira em torno de quatro no primeiro ano, e, aos 18 meses, ele diz algumas frases. Uma pesquisa inglesa mostrou que aprender a falar é mais difícil para os meninos. O estudo, feito com crianças entre 1 e 3 anos, mostrou que a fala está relacionada com a capacidade de controlar emoções, um campo dominado pelas mulheres. A criança aprende a falar ouvindo conversas, tentando imitar os sons e praticando. A ideia não é falar “nenenês”. Ao contrário. Converse com carinho, naquele linguajar meio cantado, mas não infantil. Pesquisas mostram que esse jeito natural de falar ajuda a criança a ensaiar as primeiras palavras. Se ele disser algo errado, não corrija, apenas repita do jeito certo.
Desmamar Se seu filho está para completar 2 anos e ainda mama no peito, é hora de começar o desmame (vai ser um desafio também para você). Alguns bebês começam a rejeitar o peito e os especialistas garantem que o leite materno agora tem um valor nutricional menor, já que a criança tem uma alimentação variada. “A amamentação perde o sentido quando ela começa a ficar independente. É hora da mãe valorizar outros momentos com o filho para não retardar a sua busca por autonomia”, diz a psicóloga Rita Calegari, do Hospital São Camilo (SP) e colunista da CRESCER. Faça o desmame aos poucos. Retire a mamada do horário em que ele sente menos falta e, depois, as seguintes. Se ele apontar ou pedir pelo peito, dê suco ou leite em um copo ou até um pedaço de pão e tente distraí-lo com um brinquedo.
Superar os ataques de birra Você já viu aquela famosa cena de uma criança se jogando no chão e pensou que isso não ia acontecer com você? É melhor não ter convicções sobre isso – os pequenos adoram testar o limite dos pais. A birra aparece quando a criança fica irritada ou porque não consegue se expressar direito (ela não tem maturidade para falar bem) ou porque não tem capacidade emocional para lidar com uma frustração. Independente do motivo, enfrentar um escândalo é superdifícil. Na hora da crise, tente desviar o foco da atenção da criança e, como ela está nervosa, evite conversar. Depois, dê um abraço para mostrar que está tudo bem e, com calma, fale com ela.
Criar anticorpos contra as infecções Inúmeras pesquisas mostram que se sujar ajuda a fortalecer o sistema imunológico. A mais recente delas, da Universidade da Califórnia (EUA), revelou que as bactérias consideradas normais, que vivem na superfície da nossa pele, evitam inflamações quando a criança se machuca. E é nessa idade, quando a criança começa a ter mais contato com o mundo, que esse sistema de proteção trabalha mais. Quando seu filho vai para o berçário, por exemplo, é bem provável que pegue um resfriado de um amigo. Aos poucos, o organismo vai se defendendo melhor – mas não se esqueça das vacinas.
Fabiana Devin2 a 3 anos
Abandonar as fraldas Vai ser um duplo desafio: para a criança, que vai aprender a fazer isso direito, e para você, que precisa ter (muita) paciência para lidar com todo tipo de imprevisto – como uma escapada de xixi no chão da casa da sogra. Se dependesse só do desenvolvimento fisiológico, a retirada das fraldas poderia ser aos 18 meses, quando a criança já tem controle dos músculos e dos nervos do ânus e da uretra. Mas, para dar certo, ela também precisa ter maturidade emocional para essa transição, geralmente alcançada aos 2 anos. Tirar antes do tempo pode causar problemas, como fazer xixi ou cocô na roupa sempre ou, depois de alguns anos, ter enurese noturna (xixi na cama). Como saber se chegou a hora? Seu filho vai dar alguns sinais. A fralda começa a ser um desconforto, ele chama para avisar que fez xixi ou cocô e agacha para fazer força na hora de evacuar. Aí você pode começar o “treinamento” pela fralda do xixi, de dia. Vale usar desde o vaso com adaptador até o penico. Leve seu filho para usar o banheiro com você e pergunte se ele está com vontade de fazer xixi. Quando essa etapa der certo, comece com a fralda do cocô e, por fim, com a noturna. Todo o processo leva, em média, um mês – e pode incluir resistência e choro.
Correr – e muito mais Depois de tantos tropeços, desquilíbrios e muito bumbum no chão, seu filho vai conseguir se equilibrar em um pé só, pular, correr, subir e descer escadas, escalar cadeiras e o sofá. A parte do cérebro responsável por isso, chamada mielina, praticamente não existe no recém-nascido, mas com 2 anos ela está bem desenvolvida por todo o cérebro, e atinge seu ápice aos 5. Uma pesquisa da Universidade de Montreal (Canadá), mostrou que o pai dá mais liberdade e permite que as crianças explorem mais o ambiente, enquanto as mães tendem a ser superprotetoras. Claro, você precisa incentivá-lo, mas sem deixar de mostrar o perigo.
Aprender a dividir “Somos programados biologicamente para ser egoístas. Faz parte do nosso instinto”, afirma Rita Calegari. É isso mesmo. A gente deixa de ter esse tipo de comportamento para viver em sociedade. Uma pesquisa suíça feita com 229 crianças, entre 3 e 8 anos, mostrou que as menores são as que mais têm dificuldade para compartilhar. Eles entregaram doces para cada uma delas e observaram como as guloseimas seriam divididas. As mais novas não deram um pedaço para ninguém. Uma das explicações é que, para aprender a emprestar, é preciso praticar, e isso acontece com o tempo. A convivência com outras crianças é importante, mas outras situações ajudam também. Você pode propor um dia para que os amigos do seu filho façam trocas de brinquedos e ainda separar, com a ajuda dele, roupas para doar.
Explorar o próprio corpo A saída das fraldas dá a liberdade que a criança precisava para começar a conhecer o próprio corpo. Ela vai querer andar pelada, pode fazer as primeiras perguntas sobre sexo e começar a se tocar. Dar bronca ou repreender não é um bom caminho porque ela pode associar o sentimento de prazer e satisfação com complexo de culpa, e entender que é algo que não deve ser feito nunca. O ideal é explicar para o seu filho o que é público e o que é privado, ou seja, que algumas coisas não podem ser feitas na frente de todo mundo e responder apenas ao que ele perguntar. O interesse é passageiro e não tem nenhum tipo de conotação sexual.
Entrar na escola Se o seu filho ainda não está no colégio, chegou a hora disso acontecer. Lá, mais que um lugar de estudo, é um espaço para outras trocas acontecerem. A criança interage mais, tem noções de responsabilidades e cria vínculos. O principal desafio é ser aceito pelo grupo e, você sabe, não é fácil. Ele tem que vencer a timidez, aceitar novas ideias, ter responsabilidades etc. E, nessa história, ainda tem a sua adaptação. Você vai aprender a lidar com a culpa que pode aparecer por ficar longe dele, a confiar na escola e se sentir seguro para transmitir essa sensação ao seu filho. Uma pesquisa norte-americana, feita com mais de 1.300 crianças, mostrou que aquelas cujos pais se envolviam e se interessavam pela vida escolar tinham um comportamento melhor. Ou seja, sua participação é fundamental.
Fabiana Devin
3 a 4 anos
Comer sozinho A época da bagunça e da sujeira já passou – agora, a comida (ou boa parte dela) sai do prato para a colher e, de lá, direto para a boca. Ainda não é hora de usar garfo e faca porque a coordenação motora fina do seu filho, responsável por esses movimentos, precisa se desenvolver mais para controlar os talheres com segurança. Prefira colheres e pratos de plástico. Durante as refeições, olhando como você usa os talheres, ele tem a oportunidade de imitar e, assim, aprimorar os próprios movimentos.
Tentar entender tudo Ele vai querer saber tudo sobre todas as coisas. A fase dos porquês é sinal de amadurecimento. A criança só faz perguntas quando assimila uma informação e tem curiosidade para saber mais sobre ela. Se você não souber responder – como quando ele vem com uma pergunta sobre os dinossauros – peça ajuda dele para encontrar a resposta. Ele vai adorar!
Passar um dia na casa do amigo Se você costumava deixar seu filho ficar o dia todo na casa de avós e tios, vai ser mais fácil permitir que passe algumas horas na casa de um amigo. Como ele já está acostumado, vai se sentir superseguro. Mas, se essa for a primeira vez que ele vai passar o dia longe, o ideal é que seja na casa de pessoas que a criança tenha alguma familiaridade e que você conhece e confia. Se vocês combinarem que ele também pode dormir lá e, à noite, ele chamar por você, os pais do colega podem avisar e você fala com ele por telefone. Diga que está tudo bem, que é uma experiência nova e que amanhã vocês se encontram. Se a situação for mais delicada (quando ele está chorando muito), o melhor é ir buscá-lo. Conversem no dia seguinte e diga que ele pode tentar de novo. Afinal, da próxima vez pode dar certo.
Dormir na cama dele a noite inteira As visitas ao seu quarto ainda são frequentes? Então é hora de mostrar que ele precisa aprender a dormir na cama dele a noite toda. Primeiro, estabeleça uma rotina. Um estudo norte-americano, conduzido pelo Instituto de Pesquisa Internacional SRI, mostrou que as crianças que têm horários predeterminados para dormir e descansam bem, desenvolvem melhor a linguagem e demonstram mais facilidade para lidar com números. Para incentivá-la, peça ajuda para uma minimudança na decoração do quarto. Durante o dia, faça brincadeiras ali dentro também para ela se familiarizar com o ambiente. O mesmo deve acontecer à noite. Crie uma rotina gostosa para a hora de dormir – vale contar uma história, ouvir uma música que ele goste. Nas primeiras noites, fique com ele até que adormeça. Deixe uma luz azul acesa se isso trouxer mais tranquilidade para o seu filho. Aí, você vai saindo aos poucos. No começo, vai ser difícil. Ele pode chamar pelo seu nome, ter dificuldade para dormir e, se isso acontecer, ele vai levantar e ir até a sua cama. Por isso, suas noites de sono vão ser agitadas nessa fase. Para entender que precisa ficar no quarto dele, você vai ter de levantar e levá-lo de volta.
Desenhar até os detalhes O desenho acompanha o desenvolvimento da criança como uma espécie de radiografia. Com 1 ano, ela faz um emaranhado de linhas, traços leves, pontos e círculos. Dois anos depois, espere pelas primeiras formas, como cabeça e braços em uma boneca e telhado em cima de uma casa, por exemplo. Para que isso aconteça, seu filho precisa de referências. Você pode levá-lo a exposições e museus, mostrar livros, fotografias ou contar uma história e pedir que ele desenhe. Quando estiverem em um passeio, chame atenção para os detalhes das coisas, como o formato da nuvem, do banco de uma praça. E, claro, deixe sempre à mão da criança papéis com texturas diferentes e todo tipo de material para colorir.
4 a 5 anos
Falar mais e melhor Aqueles comentários “parece conversa de gente grande” vão ficar cada vez mais frequentes. A criança já conhece e entende o significado de cerca de 1.500 palavras. Com esse repertório, ainda que modesto (para ter domínio sobre uma língua estrangeira, por exemplo, precisamos conhecer cerca de 35 mil palavras), ela consegue contar e criar histórias inteiras, a narração é mais rica e até os personagens ganham personalidade. Toda essa habilidade para criar um mundo de fantasias aparece no dia a dia do seu filho. Espere por observações atentas (ele pode falar que seu sapato é muito bonito, por exemplo) e questionamentos abstratos (“por que bicho de estimação morre?”). Como você imagina, a capacidade de aprender aumenta com o treino. Quanto mais você falar com ele, pedir detalhes das histórias, ler livros e ouvir músicas, maior vai ser o repertório da criança. Vícios de linguagem e erros na flexão dos verbos ainda são comuns e devem ser corrigidos com naturalidade. Se você notar qualquer problema de fala, como trocar o “l” pelo “r”, procure um fonoaudiólogo.
Viajar ao mundo do faz de conta – e voltar! Os seres fantásticos vão sair do livro, dos brinquedos e, claro, da televisão para entrar com tudo na vida do seu filho: ele vai adorar fingir que é um personagem – e isso é ótimo! A fantasia estimula a imaginação e a criatividade porque transporta a criança para um mundo onde tudo é possível. Estudos mostram que o faz de conta auxilia no desenvolvimento cognitivo. Você precisa estar atento a quem são os personagens que seu filho quer ser no mundo imaginário. Se forem sempre muito violentos, é legal mostrar outras opções. Os especialistas garantem que, com 5 anos completos, a criança consegue diferenciar bem o que é real e o que não é. Quer saber mais sobre o assunto? Leia a reportagem “Pelo direito à fantasia”, nesta edição.
Ter paciência para montar quebra-cabeças Quando o cérebro recebe o estímulo para um desafio, faz novas sinapses (a comunicação entre os neurônios), cria uma solução a partir desses novos caminhos e, então, tem a recompensa, que é o prazer de desvendar o mistério. Não, não é uma prova de lógica. Isso é o que acontece quando seu filho brinca com jogos como quebra-cabeças, de memória e blocos de montar. Essas atividades estimulam as áreas associativas do cérebro, ligadas à percepção visual, motora e tátil. Ele entende a noção de parte e de todo, treina o raciocínio lógico, explora a coordenação motora e aprimora o conhecimento de espaço. Além, claro, de treinar a paciência.
Perder um jogo – e saber lidar com isso Todo mundo diz que o importante é competir. Fácil falar, mas como explicar isso para uma criança que está chorando porque foi o último colocado em uma brincadeira? Felizmente, dizem os especialistas, os jogos são um exemplo simples para falar sobre isso com a criança. Você pode mostrar que até quem sempre ganha, às vezes, não consegue vencer. E isso não quer dizer que aquela pessoa deixou de ser boa nem que o resultado vai ser o mesmo na próxima rodada. Quando for jogar com ela, valorize a diversão em vez da competição e mostre que é preciso se esforçar para vencer. Se você deixá-la ganhar sempre, a criança fica com a falsa impressão que não existe a possibilidade de perder. Aprender a lidar com a frustração é um aprendizado para a vida toda.
Cuidar da higiene pessoal Aceite: seu bebê está crescendo. Ele não usa fraldas e pedidos como “mãe, pai, acabei o xixi, vem me limpar” vão ficar ainda mais escassos porque agora seu filho tem um pouco mais de autonomia para fazer as coisas sozinho. Ele consegue ir ao banheiro, se limpar e até tomar banho sem a sua ajuda, o que não significa sem supervisão. No começo, atente-o para os detalhes: lave atrás da orelha, você esqueceu de esfregar o pé, mais atenção para as partes íntimas. Até ele completar 8 anos, faça uma checagem pós-banho. Já da escovação dos dentes você não pode descuidar até... ele ter pelo menos 12.
5 a 6 anos
Compreender a noção de tempo“Hoje já é amanhã?” A pergunta soa estranha, e é mesmo, mas esse tipo de questionamento revela que está tudo bem com os pensamentos do seu filho: mostra que ele está tentando entender algo ainda muito confuso, a passagem do tempo. Esse tipo de entendimento, antes muito instável para a criança, agora começa a fazer sentido. Ela, aos poucos, entende quanto falta para o aniversário, a diferença entre os dias da semana, os meses e os anos, o que é pouco tempo e o que é muito. Quando você diz que em instantes vai servir o jantar e, por isso, ela precisa guardar os brinquedos, está mostrando que as atividades têm uma duração e um momento para acontecer. Outro jeito legal de ensinar a noção de tempo é fazer uma contagem regressiva para uma data especial.
Ser independente do melhor amigo Os especialistas estimam que, a cada 15 alunos de uma sala, pelo menos três vão eleger um colega para receber o título de “o melhor amigo”. O que na vida adulta pode significar uma grande amizade, na infância é apenas um sinal de que as afinidades estão aparecendo. Na maior parte das vezes, as crianças têm os mesmos gostos, as famílias partilham valores semelhantes e eles já são grandes amigos na sala de aula. Pesquisas recentes mostram que a amizade influencia até nos hábitos alimentares – se o amigo do seu filho gosta muito de salada, por exemplo, ele pode passar a comer também. Às vezes, pode surgir aquele papo de que são namorados, mas quando você investiga um pouco mais, vê que não passa de uma amizade. A grande questão é que um não pode ser dependente do outro. Se seu filho tem um melhor amigo mas também brinca com os outros, não há problema. Mas se ele se afastar dos demais, peça ajuda do professor que pode, por exemplo, incentivar trabalhos em grupo com outros colegas.
Crescer muito de uma hora para outra Se você marcava o crescimento do seu filho em uma parede da sua casa, vai perceber que de uma semana para outra ele vai ganhar muitos centímetros. O período de crescimento mais acentuado vai de 2 a 7 anos, mas dos 5 aos 6 acontece o que os médicos chamam de primeiro estirão. De repente, as calças ficam curtas, as blusas parecem ser do irmão mais novo e as conhecidas dores de crescimento podem aparecer toda vez que o músculo não conseguir acompanhar o ritmo de desenvolvimento do osso. Se seu filho sentir dor, mas não há inchaço nem vermelhidão, acalme-o e explique que isso acontece porque ele está crescendo. Se outros sinais aparecerem, converse com o pediatra.
Aceitar regras Além de todos os benefícios que você sabe que a prática de exercícios proporciona, ela também pode dar abertura para você falar com seu filho sobre compromisso, disciplina, limite e trabalho em equipe. Em um jogo de futebol, a criança aprende a dividir e passar a bola, a ajudar um companheiro que está sendo marcado por alguém do outro time, entende que só pode usar o pé – nunca as mãos–, reconhece que com treino ele pode melhorar o desempenho etc. Se seu filho tem dificuldade para aceitar regras, peça para ele criar um jogo sem nenhuma regra. Aos poucos, ele vai perceber que algumas coisas não funcionam sem normas e vai entender por que elas são necessárias.
Passear de bicicleta sem apoio Chegou a hora de tirar as rodinhas – e lidar com a certeza de que seu filho vai cair muitas vezes antes de conseguir andar com equilíbrio. Se ele não tinha pedido para tirar, você pode propor. Nada de superaventuras nas primeiras tentativas. Comece por um terreno plano (e a criança equipada com capacete, joelheira e cotoveleira) e, aos poucos, aumente o desafio. Segure no banco e peça para o seu filho dizer quando pode soltar, isso traz mais confiança. Quando ele cair... bem, respire fundo – se for preciso, aparente uma tranquilidade que você não sente naquela hora – e diga que vocês vão tentar, juntos, de novo. E sempre valorize as conquistas dele, nem que seja as marcas roxas que vão aparecer com os tombos.
Fabiana Devin
6 a 7 anos
Atravessar a rua sem dar a mão para você Como assim, sozinho?! Calma. No começo, parece impossível, ainda mais para quem mora em grandes metrópoles. Mas vocês podem começar juntos por uma rua não muito movimentada e, de mãos dadas com ele, explicar que é preciso olhar para os dois lados, esperar todos os carros passarem, o sinal ficar vermelho, dar mais uma espiadinha para então atravessar, sempre na faixa de pedestres. Ele pode ficar inseguro ou querer sair correndo. Por isso, sua presença e paciência são fundamentais para evitar acidentes e dar as orientações certas. Quando ele estiver pronto e confiante para soltar as mãos, você pode acompanhar a travessia junto com ele ou esperar do lado oposto da rua.
Ir para o acampamento Malas prontas, é hora de ir para o passeio com a escola ou com os amigos. Explique tudo o que acontece por lá e como pode ser legal participar de gincanas, conhecer outras crianças e ficar acordado até tarde. Quando está longe dos pais, tem que partir dele a iniciativa de interagir. Se o seu filho não quiser ir, tente entender o porquê da recusa. Fale que, se ele sentir saudades, pode pedir para o monitor ligar para você. Em geral, eles ficam apreensivos no começo, mas depois é pura diversão.
Ficar banguela Todos os 20 dentes de leite do seu filho são trocados entre os 5 e os 7 anos. Os da frente ficam moles e caem primeiro, formando a famosa “janelinha”. Algumas crianças podem se sentir feias por estarem banguelas, mas a maioria fica ansiosa e quer logo que os dentes caiam, principalmente se os amigos já estiverem passando por isso. Explique que, assim que esses caírem, chegam os permanentes, mais fortes e bonitos – a brincadeira da fada dos dentes também pode ajudar. Não force a queda do dente mole ou arranque. Se estiver incomodando, leve seu filho ao dentista. Este é um bom momento para avaliar a necessidade de usar aparelho. Observe se os dentes novos estão nascendo malposicionados, se há espaço para todos e dê atenção especial a eles durante a escovação.
Não brigar dentro da escola As confusões com os colegas ficam mais frequentes porque cada um quer fazer do seu jeito e um provoca o outro. Problemas de comportamento podem ser ainda um alerta de que algo não vai bem, como um desinteresse pelas aulas ou até um problema emocional, como lidar com a chegada de um irmãozinho. Se não for nada grave, deixe que ele resolva sozinho. Se o caso for mais complicado, você e a escola precisam entrar em um acordo e ter o mesmo discurso na hora de conversar com a criança. Se cada um fala de um jeito diferente, ela fica confusa, não sabe identificar o próprio erro nem encontra uma solução.
Conseguir ler tudo Abrir um livro e poder decodificar aqueles sinais antes tão estranhos. É com 7 anos que a criança está lendo e escrevendo. Se isso acontecer mais cedo, tudo bem, mas não há por que se preocupar antes dessa idade, segundo os especialistas. Ter confiança na escola, nos professores e acreditar na proposta pedagógica vão ajudar você a lidar com a ansiedade para que ele leia logo. Livros infantis também ajudam muito e, segundo uma pesquisa do Instituto Pró-Livro, as crianças estão lendo mais: a média de leitura de cada uma subiu de 1,8 livro por ano em 2000 para 4,7 livros em 2008. Em casa, peça ajuda dele com a lista de compras, para ler o que está escrito em uma embalagem e, se vocês tiverem um animal de estimação, seu filho pode ler para ele! Os bichos são ótimos ouvintes e ficam horas escutando a mesma história.
7 a 8 anos
Valorizar o dinheiro As crianças percebem, desde muito pequenas, que o dinheiro é algo necessário, mas nessa idade elas entendem melhor o valor das notas e moedas, as diferenças entre caro e barato e a realidade econômica da família. Seu filho precisa saber o que você pode e o que não pode comprar. Se ele pedir um brinquedo que não cabe no orçamento, dê algumas opções: ele pode ganhar no aniversário, usar a mesada para ajudar na compra (você pode dar uma parte da mesada toda semana e a quantia não deve ser alta)e, se não der mesmo, falar que aquele é caro demais e que vocês não podem arcar com o custo – mostre tudo o que é possível comprar com aquela quantia.
Assumir que contou uma mentiraAté os 5 anos, a criança ainda confunde fantasia com realidade, mas aos 7 pode ter certeza: ela sabe quando está contando uma mentira. Em vez de confrontá-la, simplesmente, procure entender por que ela agiu assim. Normalmente, as crianças mentem quando sentem medo ou sabem que fizeram algo errado, e aí ficam apreensivas com as consequências. A confiança entre vocês precisa ser construída em um ambiente de conforto e segurança, por isso seja compreensível e explique que, quando ela mentir, vai ser repreendida com um castigo ou uma advertência. Ao mesmo tempo, valorize quando ela diz a verdade para aprender que pode pedir desculpas por algo que fez. Uma última observação (que seu filho não precisa saber): uma pesquisa canadense mostrou que saber mentir é um sinal de inteligência. Os processos cerebrais envolvidos na mentira seriam um indicador de que a criança conseguiu alcançar um estágio importante de desenvolvimento.
Entender temas difíceis Prepare-se para ouvir perguntas mais elaboradas. “Deus existe?” Ou: “Cigarro faz mal?” Seu filho é capaz de articular ideias, apresentar argumentos e compreender as suas explicações, então, deixe o canal de comunicação aberto. Crie um ambiente de confiança e credibilidade. Antes de responder, pergunte o que ele já sabe e o que deseja entender exatamente para não correr o risco de se antecipar nas respostas. Se não souber responder, seja sincero, busque a solução e converse com ele depois. Se você não der retorno, ele vai procurar a resposta com outras pessoas – e aí surge o risco dele ouvir todo tipo de coisa.
Fazer provas importantes O ensino fica cada vez mais aprofundado e as avaliações, formais. Ter responsabilidade com provas e lições pode deixar a criança com medo de não conseguir cumprir as obrigações escolares. Dúvidas como: “E se eu não passar de ano?” Ou: “Não sei fazer essa conta”, são normais. Então, procure ajudá-lo a se organizar para estudar melhor. Você não vai fazer a lição por ele, mas pode propor um plano de horas de estudo, com dias e horários estipulados, e providenciar um lugar adequado para isso. Um ritual de passagem também ajuda: saia com ele para escolher um caderno bem legal ou uma escrivaninha para o quarto. Essas aquisições ligadas ao estudo podem situá-lo nessa nova fase escolar.
Cuidar das próprias coisas Seu filho já sabe que não pode faltar à aula e tem que arrumar o quarto: faz parte do que os especialistas chamam “idade da razão”. Ele percebe o certo e o errado e entende por que pode (ou não) fazer tal coisa. Nessa fase, ele realiza sozinho pequenas tarefas, cuida dos seus brinquedos e roupas e seu senso de responsabilidade, individual e coletivo, surge a partir das orientações que recebe dos pais. Vale dar o exemplo (como arrumar as coisas no escritório), cobrar que as regras combinadas sejam seguidas (fazer a lição antes e brincar depois) e explicar o porquê, respeitando o tempo da criança.

Como você se torna mãe

Tudo começa a ser aprendido já na gravidez e segue com aulas intensivas, 24 horas por dia, para o resto da vida depois que seu filho nasce
Texto Cíntia Marcucci. Reportagem Ana Paula Pontes e Simone Tinti. Fotos Gustavo Lacerda
Gustavo Lacerda
Final da quarta temporada deSex and the City. Na penúltima cena, Carrie chega ao hospital para visitar Miranda, que acabara de dar à luz. Na maternidade, ela segura o bebê e sua voz diz ao fundo. “E assim a vida chega e as coisas começam a mudar”. Então ela devolve o bebê Brady aos braços da mãe, que fala: “É esquisito. É como se, de repente, tivessem colocado uma girafa nesse quarto”.
A frase traduz o sentimento de Miranda. Ela acaba de ser contratada oficialmente para um cargo que não faz ideia de como exercer, o de mãe. Mesmo assim, sente que aquilo é muito grande, muito importante e vai ocupar um espaço tremendo da sua vida. Como uma girafa que mal cabe dentro de um ambiente fechado.
Por mais esperado que seja um bebê, é quase certeza que você e toda mãe se pegaram – ou se pegarão – pensando como Miranda: “E o que eu faço agora?” Ao longo do resto da vida essa mesma pergunta se repetirá milhares de vezes, nem sempre com resposta. O questionamento faz parte da maternidade, uma coisa tão dinâmica quanto viver em si, que muda constantemente e com a qual você aprende a lidar dia após dia.
Não é à toa que o tema fascina e intriga um monte de cientistas, que pesquisam as mulheres e seus filhos para tentar entender – e explicar – como elas se tornam mães. E motiva um outro tanto de mães que tentam entender a si próprias e compartilham suas ideias em inúmeros livros, blogs e afins. O grupo da ciência descobriu recentemente que o nosso próprio corpo é o primeiro a dar uma força para que as mulheres consigam lidar com as novas tarefas da maternidade. Ainda que você não tenha “sintomas”, o seu cérebro (pasme!) cresce logo depois que o bebê nasce. Nada a ver com tamanho. O que ocorre é um aumento nas ramificações dos neurônios que agiliza o processamento das informações.
Isso quer dizer que, cada vez que você se preocupa com o bem-estar do seu filho (como na hora do banho), essas novas conexões do seu cérebro se fortalecem. Quem conseguiu traduzir essa transformação cerebral foi um grupo de pesquisadores norte-americanos do National Institute of Mental Health, liderados pela neurocientista Pilyoung Kim, mãe de um bebê de 5 meses e meio e, por isso, conhecedora dessa ciência na prática. Eles compararam os cérebros de 19 mulheres no período de até quatro meses depois do parto e registraram alterações em áreas ligadas à motivação, estímulos sensoriais e raciocínio – e tudo ocorre por causa de hormônios, como a ocitocina, a prolactina e o estrógeno. “Para mim foi interessante, pois descobri o que acontecia comigo mesma, quando deixava de fazer minhas coisas para cuidar do meu filho”, disse Pilyoung à CRESCER.
O QUE VOCÊ GANHA COM A MATERNIDADE 
- Passa a apresentar mais empatia pelo próximo, por ter mais facilidade em se colocar no lugar do outro do que antes. Assim, pode ficar mais preparada para lidar e gerir pessoas em outras situações.

- Todos os dias seu filho a coloca em situações inusitadas. Além de aprender a lidar com imprevistos, você passa a perceber que há coisas que fogem de seu controle. Até a capacidade de adaptação ganha com isso.

- Você vai se tornar multitarefa. Portanto, aproveite sua habilidade em fazer várias coisas ao mesmo tempo, mas tome cuidado para não se sobrecarregar e ficar com a sensação de não ter feito nada direito.

Gustavo Lacerda
Instinto materno? Se, por um lado, saber que seu cérebro muda concretamente é curioso e fascinante, claro que não é só de mais sinapses (a comunicação entre os neurônios) que se faz uma mãe. O lado psicológico também se modifica bastante durante a gravidez e os primeiros meses após o parto em prol da maternidade. “A mulher tem uma regressão psicológica para se sentir novamente um pouco bebê, lembrar de experiências, identificar-se com o novo ser. Por isso ela fica mais carente, sensível e insegura”, explica a psicóloga Carmen de Alcântara Oliveira.
A sociedade e a cultura encarregam-se de sua parte: a menina aprende desde cedo a cuidar do outro. Brincar de casinha, como explica a psicanalista infantil Anne Lise Scappaticci (SP), é um exercício imaginativo da criança, um “treino” para o futuro. “Ela repete com a boneca os exemplos que vê em casa. Durante a brincadeira, reverte a perspectiva, ou seja, não é a filha que tem que obedecer, mas quem dá as regras”, diz. Sem perceber, a menina já adquiriu parte do conhecimento da maternidade. A essa altura você já deve estar se perguntando sobre onde entra, então, o instinto materno.
Bem, essa coisa de instinto é polêmica. Mesmo aparecendo no discurso de dez entre dez mães, esse “sentimento” já mobilizou a dedicação de diferentes especialistas, de antropólogos a filósofos, como a francesa Simone de Beauvoir, que há mais de 30 anos questionou o instinto materno. Seguidora de suas ideias, a socióloga francesa Elisabeth Badinter procurou respostas sobre o tema ao escrever Um Amor Conquistado – O Mito do Amor Materno (Ed. Nova Fronteira). Para ela, a figura da mãe é construída na convivência com o bebê. Para outros especialistas, como a antropóloga Mirian Goldenberg (RJ), não é que ele inexista: “Ocorre que questões culturais costumam ser mais determinantes e podem, por vezes, anular o que seria instintivo. Na China, por exemplo, algumas mães cuidam melhor dos filhos homens porque eles são mais importantes para o sustento da família”.
Isso não quer dizer que você tenha só que seguir a razão, o senso comum ou mesmo as estatísticas, e ignorar o que sente. Rosimeire Rossi, 46 anos, mãe de Maria Fernanda, 21, percebeu um carocinho na cabeça da filha quando a menina tinha 8 anos. Achou que algo estava errado, mas não era o que os médicos diziam. Só depois do oitavo especialista conseguiu com que o caroço fosse retirado e analisado. “Minha família achava que eu estava neurótica, ou que não tinha o que fazer por ficar procurando alguma coisa.” Dez dias após a cirurgia, ela levou a filha para tirar os pontos e descobriu que o tal carocinho era um tumor maligno, um tipo de câncer raro e muito agressivo. Hoje, Maria Fernanda está curada.
Mas será que isso tem mesmo a ver com o instinto ou essa ligação toda de Rosimeire com a filha teria sido construída ao longo de todo o tempo – oito anos mais nove meses na barriga – que já haviam passado juntas? E que isso poderia ocorrer também com uma mãe adotiva, um pai, duas amigas muito ligadas ou pessoas que se amam e se conhecem há muito tempo? Para muitos especialistas, o nome desse sentimento, que não é exclusivo entre mãe e filho, é intuição. “É um tipo de conhecimento como qualquer outro. Ele tem fundo afetivo, vem em decorrência do instinto, do inconsciente e não tem nada de sobrenatural”, afirma a psicóloga Virgínia Marchini (SP), especialista no tema que ministra cursos e palestras para que até empresas saibam usar a intuição no ambiente de trabalho. Esse conhecimento, sabemos, a mãe adquire com a convivência, criando vínculos, participando da vida do filho, prestando atenção em como ele é.
Independentemente do nome que se dê para esse sentimento, as mães têm liberdade absoluta para o usarem com seus filhos. Para isso, de acordo com Virgínia, é preciso que a mulher conheça a si mesma, aprenda a se ouvir. Assim, ela vai saber discernir o que é intuição do que é medo e do que é desejo.
SEU CÉREBRO EM TRANSFORMAÇÃO 
Quando o bebê nasce, a cabeça da mulher também muda. O cérebro passa por transformações iniciadas pelas liberações de hormônios no parto e na amamentação. As áreas ligadas à motivação, aos estímulos sensoriais e ao raciocínio ficam mais ativas, ajudando nas tarefas do dia a dia.

Sempre na mira
Conhecer-se é importante também para não ficar perdida no meio de tantas opiniões e conselhos. Quando você se torna mãe, acaba tendo não só a si própria, mas o resto do mundo prestando atenção no que faz. Como se você entrasse numa espécie de GPS alheio. “Eu me sinto julgada o tempo todo. Esses dias, fui a um festival de jazz com meu filho e meu marido. Quando começou a escurecer fui embora e tive de ouvir duas moças que eu nem conhecia me chamarem de irresponsável por levar uma criança lá. Só por que tenho filho e tem um festival à tarde, eu não posso ir?”, conta Andréia de Oliveira Brevitali, mãe de Luigi, 2 anos.
Seja qual for a situação, você não sabendo o que fazer, ou, como Andréia, já tendo tomado uma decisão, vai haver sempre quem pense diferente e expresse seus palpites. Sua mãe diz uma coisa, sua sogra, outra, seu pediatra não concorda com nenhuma das duas. Amigas, parentes e até quem você nunca viu tem alguma “dica” sobre a educação, a saúde e tudo que envolva crianças, mesmo se não tiver filhos. E fale a verdade: você pode até não verbalizar, mas também está sempre avaliando outras mães.
Em um trecho do bem-humorado livro Eu Era uma Ótima Mãe até Ter Filhos (Ed. Sextante), as norte-americanas Trisha Ashworth e Amy Nobile reproduzem um depoimento sincero de uma das mais de 100 mães que entrevistaram. “Uma das minhas amigas voltou a trabalhar logo depois de ter bebê. Pensei: ‘Ela poderia ter pelo menos aproveitado a licença-maternidade, é uma péssima mãe’. Eu a recriminei mas, na verdade, estava era com inveja.”
Esse monte de atenções voltadas para você somadas às suas próprias – e muitas vezes exageradas – expectativas para ser perfeita e ao peso natural do cotidiano podem ter um certo efeito explosivo. O estouro vai certamente ocorrer por alguma bobeirinha e ninguém à sua volta vai entender, muito menos seu marido e seus filhos. Como isso é normal e mesmo compreensível, o melhor a fazer é não esquentar demais a cabeça. Peça desculpas se gritou com alguém e veja o que dá para fazer para liberar seu estresse de outra maneira, antes de explodir. Das páginas do livro de Trisha e Amy vêm uma história engraçada, que pode até virar uma dica. “Às vezes deixo o leite acabar de propósito para ir ao supermercado sozinha mais tarde. Dirijo devagar, abaixo as janelas do carro e curto um pouquinho a solidão.” Confesse: você também já teve vontade de fazer isso, não?
CONEXÃO REAL E CONSTANTE 
Seja por instinto, por intuição ou por conhecimento, os vínculos entre mãe e filho são mesmo dos mais fortes que podem existir. Essa ligação fica ainda mais concreta com o tempo e com o relacionamento entre os dois. E muda conforme vão surgindo os novos desafios da maternidade.
Gustavo Lacerda



















Gustavo LacerdaMulher-Maravilha
Você pode ser mãe em tempo integral, trabalhar fora, pode ter babá, deixar na creche, pode ter ajuda da sua mãe ou morar longe da família. Mas se vive no século atual, compartilha com todas as mulheres que têm filhos uma sensação constante de culpa. Por trabalhar mais do que acha que deveria, por se preocupar com coisas “menores” como ficar em forma, por não ter certeza se escolheu a melhor escola, por não gostar de cozinhar, por não poder viajar nas próximas férias, por ter parado de amamentar cedo ou por descobrir que sua filha adolescente tem o pé feio como o seu – por que foi o seu gene ruim que ficou e não o do pai, que tem os pés lindos?
Aí aparece na internet aquela famosa, linda, poucos meses depois do bebê nascer, que cuida do filho e ainda namora. E você se sente frustrada e culpada. A realidade é que essas mulheres têm ajuda de babás, mesmo que isso não seja noticiado. E a beleza é parte do trabalho delas, mas não do seu.
Dito isso, falta saber por que a culpa não deixa você em paz. De acordo com a antropóloga Mirian, isso apareceu no meio do século passado, quando os modelos de maternidade começaram a ser questionados e a relação entre filhos e pais mudou. “Antes a convivência se baseava na autoridade paterna e materna e no efeito imediato das coisas. Com a evolução da psicologia e da psicanálise, passou-se a avaliar o quanto cada ação poderia refletir para o resto a vida de uma criança. Isso é bom por gerar muito mais reflexão, mas traz junto a culpa.”
Ana Priscila de Oliveira, mãe de Lara, 3 anos, mora longe da mãe e da sogra e lembra como se sentiu em uma das primeiras noites em casa com sua filha, culpada por não conseguir resolver um problema do dia a dia: “Uma noite ela chorou tanto de cólica eu não sabia mais o que fazer. Então meu marido acordou e pegou ela do meu colo. Eu nunca vi algo mais extraordinário, ela parou de chorar instantaneamente e dormiu. Em seguida deitei na cama e chorei o resto da noite achando que ela não gostava de mim”.
Na visão da psicóloga Carmen a culpa materna é fruto da sociedade ocidental e da cobrança da mulher em ser perfeita. “Não adianta a mãe estar em casa com a cabeça em outro lugar. É preciso ter paciência com seus erros, eles fazem parte do aprendizado, e os filhos vão aprender a lidar com isso e com as frustrações.” Ela também lembra que há a tendência da mulher achar que só ela sabe fazer determinada tarefa e, assim, não permitir que o marido conviva, ajude de verdade. Isso acontece na sua casa? Pare, reflita e, se for o caso, tente mudar esse comportamento. A família toda, começando por você, vai agradecer.
Donald Winnicott, o mesmo psicanalista e pediatra inglês que, em 1956, definiu o termo “preocupação materna primária” (um período de intensa sensibilidade que permite à mãe identificar a hora certa de dar de mamar, o significado daquele choro e o jeito do bebê se expressar), coloca que a mãe suficientemente boa é aquela que pode garantir alimento, afeto e tranquilidade ao filho. Já a mãe perfeita... isso nem Winnicott nem nenhum outro especialista descreveu, mas deve ser porque ela não existe. E porque cada mãe cresce e se transforma a cada dia, junto com seus filhos. E eles podem ter 30 anos, mas você continuará sempre aprendendo a ser a mãe deles.
De volta ao episódio de Sex and the City, última cena. Após sair da maternidade, Carrie anda pelas ruas de Nova York com seus pensamentos. “Talvez nossos erros sejam o que faz nosso destino. Sem eles, como construiríamos nossas vidas? Se nós nunca saíssemos da linha, nunca teríamos filhos, ou nos apaixonaríamos, ou seríamos quem somos.” E Miranda, como todos que veem a série sabem, nunca tinha sonhado em ter filhos. Mas ela erra, se descabela, e se sai bem como mãe. Como a melhor mãe que ela pode ser para Brady. 
A CULPA É DE QUEM?
Na cabeça da mulher que é mãe, não há dúvidas: em se tratando dos filhos, a culpa é sempre dela mesma. Esse sentimento está relacionado à cobrança que as próprias mulheres se impõem de ser perfeitas e de não querer que as crianças sofram nunca. Para os filhos, porém, a frustração também faz parte do aprendizado.

segunda-feira, maio 23, 2011

CITAÇÃO DO DIA



“Se você tem a coragem de deixar para trás tudo que lhe é familiar e confortável (pode ser qualquer coisa, desde a sua casa aos seus antigos ressentimentos) e embarcar numa jornada em busca da verdade (para dentro ou para fora), e se você tem mesmo a vontade de considerar tudo que acontece nessa jornada como uma pista, e se você aceitar cada um que encontre no caminho como professor, e se estiver preparada, acima de tudo, para encarar (e perdoar) algumas realidades bem difíceis sobre você mesma… então a verdade não lhe será negada.” – Elizabeth Gilbert - Comer, Rezar, Amar

quarta-feira, maio 18, 2011

CITAÇÃO DO DIA



‎"Primeiro eles te ignoram, depois riem de você, depois brigam e então você vence".
 Mahatma Gandhi

Bert Hellinger - Nobel da Paz


NOTÍCIAS DA SUÍÇA!
Confirma-se que dia 1 de fevereiro de 2011 Bert Hellinger foi indicado para o Prémio Nobel da Paz.
O anúncio do vencedor será em outubro de 2011.
Sua obra sobre a consciência tem um potencial monumental para promover a paz mundial.