"Caminhante, tuas pegadas são o caminho (...)
Não há caminhos; faz-se o caminho ao andar".

terça-feira, abril 05, 2011

As Ordens do Amor em Constelações Familiares


Bert Hellinger acredita que a vida de uma família é permeada por quatro princípios básicos, que ele chama de Ordens do Amor. Ele escolheu esse nome porque concluiu que as dinâmicas familiares são, no fundo, sempre regidas pelo amor, por mais complexas, intrincadas ou trágicas que possam parecer. O amor está na raiz de praticamente todos os nossos comportamentos – mesmo que não tenhamos consciência disso. “Para Hellinger, o amor é o único sentimento básico”, afirma Régis Coelho. “Outros sentimentos, como raiva e medo, são secundários, porque derivam da falta de amor.”

A primeira dessas ordem a da pertinência. Todo ser humano tem o direito de pertencer ao sistema que o colocou no mundo. Parece óbvio, mas é um princípio fundamental nessa terapia. O ato de excluir um parente traz sempre conseqüências graves, seja qual for o motivo da exclusão: uma avó que enlouqueceu e foi trancada num quarto pelo resto da vida; um tio suicida que nunca mais foi mencionado por ninguém; uma moça que engravidou e foi expulsa de casa; um parente que faliu e deixou de ser aceito no convívio familiar.

Segundo a ordem da pertinência, quando um indivíduo é excluído, uma criança que nasce na mesma família, uma ou duas gerações depois, acaba assumindo inconscientemente várias características dele. “Essa é uma forma que o universo encontra para reequilibrar o sistema familiar”, explica Régis. Por isso, um pai que expulsou de casa uma filha grávida, por exemplo, pode ter que encarar, anos depois, uma neta adolescente que escandaliza a família com seu comportamento sexual.

A segunda ordem é a da inocência e culpa. Por um amor inocente aos pais, as crianças assumem para si culpas e responsabilidades deles, com o objetivo de manter o sistema unido. Trata-se de decisões inconscientes tomadas na primeira infância, mas que repercutem ao longo de toda a vida. Um menino de quatro anos de idade cujo pai faliu, deixando a família na miséria, pode se sentir culpado por essa situação; então, aos trinta anos ele também vai falir, por uma identificação inconsciente com o pai.

A terceira ordem fala sobre dar e receber. Os pais têm a obrigação de dar; os filhos têm o direito de receber e de tomar para si aquilo de que precisam para sobreviver. Quando esse princípio se inverte, as conseqüências podem ser graves. Uma mãe que, por algum motivo, não se sente segura o bastante para enfrentar a vida sozinha pode, por exemplo, usar sua filha mais velha como uma espécie de “muleta”, solicitanto que assuma responsabilidades para as quais a criança não está preparada. Situações desse tipo podem levar a uma série de sintomas, como, por exemplo, crises de depressão, que podem se manifestar inclusive na idade adulta.

A quarta ordem é a do tempo. O tempo é o fator que estabelece ordem no sistema familiar. Em primeiro lugar vêm o pai e a mãe; em segundo lugar, o relacionamento entre o pai e a mãe; em terceiro, o filho mais velho; depois o segundo filho, e assim por diante. Quando essa ordem é rompida, cria-se um conflito sério na família. É o caso de um filho caçula que luta para tomar o lugar do mais velho, de uma filha quer ter a mesma autoridade que a mãe ou de uma mãe que “usa” um dos filhos como companheiro, para protegê-la de um marido agressivo ou substituir um pai que ela não teve.

Livro: Ordens do amor pela Editora Cultrix