"Caminhante, tuas pegadas são o caminho (...)
Não há caminhos; faz-se o caminho ao andar".

segunda-feira, dezembro 03, 2012

O Destino nas Constelações




A compreensão de nosso destino e o assentimento a ele estão no cerne do trabalho das constelações. Chamamos de destino as forças que, vindas do passado, nos ligam inelutavelmente ao efeito bom ou funesto de certos eventos. O efeito dos acontecimentos nos é imposto, quer o queiramos ou não, e não temos a possibilidade de interferir nele.

A força do destino se revela, em relação a acontecimentos traumáticos numa família, de uma forma às vezes inquietante. Nas constelações experimentamos constantemente, e de modo impressionante, que somos muito pouco livres e reeditamos em própria vida, sem o saber nem querer, destinos passados e acontecimentos dolorosos, numa espécie de compulsão repetitiva. O efeito maior das constelações consiste em nos fazer perceber como, sem necessidades próprias, revivemos necessidades passadas e não aquietadas de outras pessoas, como se o que passou tivesse de ficar em paz e se tornar definitivamente passado. Este é o pão habitual do trabalho com constelações.

A concordância com a ligação ao destino significa por acaso fatalismo? De maneira nenhuma. Pelo contrário. É verdade que a configuração de nossa vida pelos destinos anteriores não pode ser anulada, mas para o futuro nos tornamos mais livres através do que se mostra nas constelações. Então o destino alheio poderá ser de algum modo exteriorizado, tornando-se uma interface à qual já não estamos cegamente entregues. Pois a alma não liga indissoluvelmente a destinos, ela nos libera deles através de um insight, de um movimento próprio inconsciente ou, às vezes, de um modo totalmente casual (com ou sem constelação).

Numa época em que às vezes julgamos que nossa vida esta completamente em nossas mãos - uma ilusão de muitos individualistas -, o reconhecimento do destino e o assentimento à ligação com o destino próprio e alheio constitui um desafio. Tanto nos acostumamos à idéia de uma livre razão e de uma autonomia individual que nos recusamos a reconhecer o que em épocas passadas foi descrito como daimonía e eudaimonía - a triste sina e a felicidade presenteada. O trabalho das constelações é seguramente uma afronta a uma psicoterapia que valoriza acima de tudo a autonomia e a emancipação individual e considera a humildade como uma submissão. Porém basta ler jornais e romances para perceber como atua o destino e como o nosso poder e a nossa impotência partilham a realidade.

Muitas pessoas sentem, instintivamente, como um processo benéfico a reverência diante do destino ou diante de pessoas a que somos ligados pelo destino. Uma reverência autêntica é quase sempre experimentada por nós como solução e liberação. Quem precisa se curvar não é a criança pequena, mas o adulto. E a reverência abarca vários processos: o ato de curvar-se, o deixar que algo morra, e o ato de erguer-se. Bem longe de ser um processo humilhante, a reverência exige coragem. Ela proporciona força, alívio da respiração e abertura de espaço.

O destino, como força que inelutavelmente dispõe, não faz caso de nossa vontade: ele a toma de roldão, sem esperar o nosso consentimento. O destino não é uma pessoa, embora freqüentemente seja representado por uma pessoa nas constelações. É um acontecimento direcionado a partir do passado, um movimento que nos liga, através da alma, à realidade maior. Quantas vezes os clientes falam de sua luta para não se tornarem iguais a seu pai ou a sua mãe, e quantas vezes acrescentam que essa luta resultou em fracasso! Quantos clientes quiseram fazer melhor que seus pais, e quantos confessam que não o conseguiram! Um dos paradoxos da vida humana é que a luta contra o destino nos liga ainda mais a ele, e o assentimento ao destino nos torna mais livres. É como um redemoinho num rio. Quem luta contra a sua sucção é puxado ainda mais para o interior, e quem sem pânico se entrega à sua força é muitas vezes impelido para fora.

Reconhecimento do destino não significa entregar-se à doença sem vontade e com resignação. Significa acompanhá-la com as forças do corpo e da alma. Então, como num redemoinho, elas são de novo liberadas da atração da doença ou da morte. Aqui muitas vezes faz sentido perguntar: O que há na doença que quer curar? Naturalmente, o doente precisa de apoio externo. E muitas constelações ajudam pessoas enfermas a se confiarem aos serviços médicos. Mas as constelações também as fazem confrontar-se com a morte. Uma senhora, gravemente doente, procurava saber através de uma constelação as causas de sua doença. O representante da morte, colocado diante dela, olhou-a com carinho, colocou-se ao lado dela e abraçou-a pelo ombro. Ela se defendeu com lágrimas, mas o representante da morte não cedeu. Dois anos depois, essa senhora escreveu ao terapeuta: "Eu me defendi muito contra a morte, e finalmente a aceitei. Agora ela está a meu lado já há algum tempo, e estou viva". Mas também existe o movimento oposto. Outra mulher em estado grave, que se sentia fortemente atraída a seguir na morte seu pai, enredado em grave culpa, pediu ao terapeuta que se esforçava por desprendê-la da morte: "For favor, deixe-me ir para meu pai!" Ela se deitou junto do representante do pai, estreitou-o nos braços, sorriu para ele com amor entre lágrimas, até que se acalmou completamente. Na continuação do grupo ela atuou com alegria e energia e colocou muitas questões práticas sobre seu comportamento em relação ao marido e aos filhos. Notou-se que ela se preparava para sua morte. Que vontade terapêutica teria aqui a força e o direito de se opor à sua morte?

 (Jakob Schneider)

Terapia Sistêmica Fenomenológica


Como se posicionar dentro da família?


Uma das características que demonstram emaranhamento sistêmico dentro de uma família é a confusão de papéis entre vários membros. Um pai não está no seu lugar – como pai ou marido, por exemplo. Ou uma mãe não está no lugar da esposa e mãe. Os filhos também não estão no papel de filhos, e muitas vezes interferem na vida dos pais. Da mesma forma, os pais querem interferir na vida dos filhos adultos. Irmãos querem mandar em irmãos. Você já viu situações como esta, não é mesmo? Tudo isso está fora da ordem.

Antes de falar sobre a ordem na família, vou explicar o que é emaranhamento: emaranhamento quer dizer que as pessoas não se encontram numa ordem adequada, onde o amor pode fluir por todos os membros familiares. As pessoas estão identificadas com situações do passado ou até com vivências de ancestrais, e por isso, não conseguem viver uma vida livre e plena, aqui e agora. Essa identificação com o passado impede de viver plenamente o aqui e agora, com toda energia vital. As emoções ficam distorcidas, um sujeito sente-se extremamente cobrado numa situação, sem ter tantas razões para isso, enquanto que outro se sente culpado, sem saber o porquê. E então, estas emoções distorcidas são jogadas para dentro do relacionamento familiar, com cobranças mútuas, acusações, sentimentos de culpa, gente se fazendo de vítima, outros chantageando, outros ainda agredindo… lembra até a comédia italiana Parente Serpente, de Monicelli…

Eu acho engraçado porque minha família não foge à regra… Bem, mas vamos ao que interessa: como se posicionar diante de tudo isso? Como trabalho com constelação familiar sistêmica, vou expor a visão de Bert Hellinger. Tenho visto muitas pessoas se libertando deste círculo vicioso de jogos, culpa e acusação, somente aplicando no dia-a-dia uma das regras que Hellinger chama de hierarquia. Lógico que não é tão simples, pois se estamos envolvidos em embrulhos familiares, estamos atolados até o pescoço destas emoções distorcidas, e temos nossa parcela de responsabilidade. Na verdade, temos toda a responsabilidade pela nossa felicidade! Nada é culpa dos parentes, sejam eles pais, irmãos ou antepassados.

Por isso, diria que a primeira parte da sua libertação é assumir a total responsabilidade pela própria felicidade. Assim, vamos falar das ordens. A primeira é: um pai ou mãe vieram primeiro. Eles deram a vida. Só este fato já é o suficiente para que o filho tenha profunda reverência por eles. E gratidão. Mesmo que eles não tenham suprido o filho com as necessidades de carinho, afeto e até mesmo materiais. Mesmo que tenham abandonado, maltratado, desprezado. Eles vieram primeiro. Sem eles, não teria a vida. E lógico, sem a vida, não teria o filho. Um filho que guarda mágoas ou até raiva dos pais está automaticamente desperdiçando energia que seria direcionada para a própria vida e para a criação dos próprios filhos – e sofrerá…

Parece duro, e sei que muitos pais deram razões para que seus filhos tivessem raiva e até ódio deles, mas este é o nosso quinhão de aprendizado espiritual desta vida. E quando percebemos que o que eles fizeram foi por absoluta impossibilidade e incapacidade de fazer melhor, e olhamos para os pais dos pais, começamos a acolher nossa vida e nossa infância como ela foi. Isso é libertador! Profundamente!

Por outro lado, os pais não devem mais interferir na vida dos filhos, a partir da idade em que eles estão prontos para a vida… e isso ocorre por volta dos 20 anos ou um pouco mais. Não digo que não deve haver relacionamento entre pais e filhos… o que eu digo é que, a partir daí, o filho deve se virar sozinho: os pais já deram o que era necessário para que eles crescessem. A felicidade ou infelicidade do filho não depende dos pais. Se eles se pegam nisso, é porque cobram os próprios pais de terem dado pouco, e transferem este sentimento de vitima aos próprios filhos… Depois falam que isso é amor. Pode?

E entre irmãos. O que Hellinger diz? Irmãos são iguais entre si. Ninguém tem que cobrar ninguém. Por uma questão temporal, o irmão mais velho tem um pouco mais de autoridade. Porém, entre adultos, isso é praticamente irrelevante. Não deve haver interferência entre irmãos. Não há esta necessidade, e se isso ocorre, mostra um emaranhamento sistêmico, onde irmãos se colocam no lugar de pai e mãe… Isso está totalmente fora da ordem.

Veja: estas regras são absolutamente simples, e se você analisar com cuidado, verá que são lógicas. Mas é importante dizer: elas são utilizadas principalmente onde existem questões emocionais, terapêuticas envolvidas. Pessoas estão sofrendo. Estão umas sobre as outras. Quando a relação é saudável, e lógico, respeitando as tradições culturais de povos onde as famílias são muito unidas, estas regras não são importantes. Mas quando existe esta confusão familiar, se aplicadas, principalmente após o trabalho com a constelação familiar sistêmica, elas produzem um resultado fabuloso de libertação para aquela pessoa que decide buscar sua liberdade, expandir sua vida e poder se dar mais ao próximo, às pessoas que realmente podem receber dela, ao invés de perder tempo e vida em relacionamento familiar distorcido. Somente assim, o verdadeiro amor pelos pais e pela família pode se manifestar. Sem culpa, sem cobrança, sem apego… e livre. E você? Como está a sua relação com a família?

Constelação sistêmica com Alex Possato e Aguinailda Rosa

5 Fatores do Sucesso Herdados dos Antepassados



Dentro dos trabalhos de constelação sistêmica, sejam nas familiares ou nas profissionais, vemos que as pessoas se identificam com estados emocionais vindos de algum familiar, às vezes distante. Como trabalhamos questões, digamos assim, problemáticas, pode parecer que só herdamos características “pesadas”, que trazem dificuldades, e não é bem assim… A ciência, desde os anos 50, está identificando algumas características de personalidade que eles atribuem aos genes, e cada pessoa possui todas as características, umas mais afloradas, outras menos. Não é a toa que vemos, por exemplo, uma linhagem familiar onde existem vários casos de pessoas empreendedoras, aventureiras, investidores… A constelação demonstra que as informações são passadas de geração em geração, e cabe ao próprio indivíduo se identificar com elas ou não se identificar. A boa nova é que esta identificação pode ser alterada, quando a pessoa toma consciência daquilo com que está identificado. Assim, se ele está identificado com um aspecto emocional que não lhe é adequado para ganhar dinheiro, ele pode se “desidentificar” e trabalhar outro aspecto que lhe seja favorável.
Vemos que isso pode ser feito com maior ou menor facilidade, dependendo do foco da pessoa.

Dois focos: fuga da dor ou busca do prazer
Existem dois focos principais, que norteiam as emoções, pensamentos e comportamentos das pessoas: fuga da dor ou busca do prazer. Como em tudo, na vida, temos sempre as duas coisas, em doses distintas. Ambos os focos, de certa forma, motivam e podem levar alguém a ganhar dinheiro. Por exemplo, a pessoa que “foge” do passado pobre, usa o sofrimento como fator motivador para prosperar. A questão é a dose. É como a história da vacina antiofídica: um pouco de veneno da cobra cura. Muito do veneno, mata…
Já a busca do prazer, é a mesma coisa: é um motivador que pode impelir pessoas ao sucesso. Mas a overdose disso pode levar alguém, por exemplo, às drogas e ao descontrole.
É necessário, na realidade, saber manter a distância deste tipo de foco. Nem a fuga da dor nem a busca do prazer devem ter muito crédito, porque este tipo de motivação está fortemente influenciado pelas emoções. Os melhores focos para empreender são aqueles baseados na auto-estima, no se achar bom o suficiente, e não em buscar algo ou fugir de algo.

As 5 características herdadas do sistema familiar

Vamos falar um pouco das características que você tem nos seus genes?

São: abertura para experiências, consciência, extroversão, afabilidade e neurose. São estas as 5 características que trazemos dos nossos antepassados, em maior ou menor grau, com diversas submodalidades entre elas. Lembro que o comportamento também é influenciado pelo ambiente, ou seja, quanto mais você se provocar a mudar coisas que não lhe são favoráveis, mais você adquire características que antes não tinha.

Abertura para experiências: este traço mede o quanto o sujeito é aberto a novas experiências e idéias. Fazer diferente, de jeito diferente, buscar o novo, aceitar idéias diferentes da sua são fatores importantes para você empreender, criar, inovar e ganhar dinheiro.

Consciência: mede o quanto você está “consciente” e afim de concluir suas metas, tomando para isso decisões que incluem disciplina, método, perseverança, flexibilidade. Saber se observar, se auto-motivar e mudar quando necessário é fundamental para o sucesso.

Extroversão: mede até que ponto você gosta de agir e atuar com pessoas. Ganhar dinheiro e fazer sucesso depende dos outros, afinal… quem é que vai investir em você? Quem é que vai aplaudi-lo? Quem é que vai comprar seus produtos? É bom que fique claro que extroversão, em termos de negócio, não é ser “aparecido”. Estamos falando em ganhar dinheiro, onde o sujeito tem claro foco em fazer negócios, contatos, networking. Isso pode e deve ser treinado.

Afabilidade: aí é um item muito interessante. Mas muito mesmo. Minha parceira Theresa, alemã, percebe no brasileiro uma característica muito grande de cooperação e de evitar conflitos. Isto não ocorre no povo germânico. E eu, que tenho origem japonesa e vivi três anos no Japão, também garanto que não é uma característica nipônica. A questão não é dizer que ser afável é certo ou errado. A questão é que a afabilidade pode ser extremamente prejudicial para quem é líder, empreendedor, para quem quer ser um sucesso. Como o mestre Nelson Rodrigues dizia, a unanimidade é burra. O líder sempre desafiará opiniões, sempre terá que afastar pessoas, ser duro em várias situações. Nada de mãozinha na cabeça. Isso é ótimo para pessoas que desejam ser e permanecer assistentes administrativos, mas não para quem quer ser sucesso.

Neurose: chegou o item que eu mais gosto. Herdamos também cargas de “neurose”, que influenciam nossos pensamentos e emoções. Este item diz sobre a capacidade que você tem de ter controle, estabilidade emocional. Mede até que ponto você reage forte e negativamente diante das tensões da vida. Quase todos nós somos mais ou menos neuróticos. A questão não é essa. Nem quer dizer ser feliz e iluminado o tempo todo. Estamos falando de sucesso. A questão é saber colocar as emoções de lado e fazer aquilo que é o mais correto sem deixar-se interferir pelos seus medos, taras, ansiedade. Somos um povo muito expansivo em relação às emoções, o que eu vejo com bons olhos. Adoro ver gente sincera, estejam elas felizes ou tristes. Mas quando o assunto é agir diante de um rombo no orçamento (e eu disse agir, e não ficar esperando enquanto a situação se resolva de alguma forma), a capacidade de controlar a emoção é fundamental, e diferencia os fracos dos fortes, os vencedores dos fracassados. É isso, não há meio termo.

Todos estes atributos são trabalhados na constelação sistêmica familiar e profissional, e podem ser modificados, principalmente porque todos eles possuem um forte cunho emocional atrelado. Quando alteramos a emoção, abrimos espaço para novos comportamentos.

(Alex Possato)