Dentro dos trabalhos de constelação sistêmica, sejam nas
familiares ou nas profissionais, vemos que as pessoas se identificam com
estados emocionais vindos de algum familiar, às vezes distante. Como
trabalhamos questões, digamos assim, problemáticas, pode parecer que só
herdamos características “pesadas”, que trazem dificuldades, e não é bem assim…
A ciência, desde os anos 50, está identificando algumas características de
personalidade que eles atribuem aos genes, e cada pessoa possui todas as
características, umas mais afloradas, outras menos. Não é a toa que vemos, por
exemplo, uma linhagem familiar onde existem vários casos de pessoas empreendedoras,
aventureiras, investidores… A constelação demonstra que as informações são
passadas de geração em geração, e cabe ao próprio indivíduo se identificar com
elas ou não se identificar. A boa nova é que esta identificação pode ser
alterada, quando a pessoa toma consciência daquilo com que está identificado.
Assim, se ele está identificado com um aspecto emocional que não lhe é adequado
para ganhar dinheiro, ele pode se “desidentificar” e trabalhar outro aspecto
que lhe seja favorável.
Vemos que isso pode ser feito com maior ou menor facilidade,
dependendo do foco da pessoa.
Dois focos: fuga da dor ou busca do prazer
Existem dois focos principais, que norteiam as emoções,
pensamentos e comportamentos das pessoas: fuga da dor ou busca do prazer. Como
em tudo, na vida, temos sempre as duas coisas, em doses distintas. Ambos os
focos, de certa forma, motivam e podem levar alguém a ganhar dinheiro. Por
exemplo, a pessoa que “foge” do passado pobre, usa o sofrimento como fator
motivador para prosperar. A questão é a dose. É como a história da vacina
antiofídica: um pouco de veneno da cobra cura. Muito do veneno, mata…
Já a busca do prazer, é a mesma coisa: é um motivador que
pode impelir pessoas ao sucesso. Mas a overdose disso pode levar alguém, por
exemplo, às drogas e ao descontrole.
É necessário, na realidade, saber manter a distância deste
tipo de foco. Nem a fuga da dor nem a busca do prazer devem ter muito crédito,
porque este tipo de motivação está fortemente influenciado pelas emoções. Os
melhores focos para empreender são aqueles baseados na auto-estima, no se achar
bom o suficiente, e não em buscar algo ou fugir de algo.
As 5 características herdadas do sistema familiar
Vamos falar um pouco das características que você tem nos
seus genes?
São: abertura para experiências, consciência, extroversão,
afabilidade e neurose. São estas as 5 características que trazemos dos nossos
antepassados, em maior ou menor grau, com diversas submodalidades entre elas.
Lembro que o comportamento também é influenciado pelo ambiente, ou seja, quanto
mais você se provocar a mudar coisas que não lhe são favoráveis, mais você
adquire características que antes não tinha.
Abertura para experiências: este traço mede o quanto o
sujeito é aberto a novas experiências e idéias. Fazer diferente, de jeito
diferente, buscar o novo, aceitar idéias diferentes da sua são fatores
importantes para você empreender, criar, inovar e ganhar dinheiro.
Consciência: mede o quanto você está “consciente” e afim de
concluir suas metas, tomando para isso decisões que incluem disciplina, método,
perseverança, flexibilidade. Saber se observar, se auto-motivar e mudar quando
necessário é fundamental para o sucesso.
Extroversão: mede até que ponto você gosta de agir e atuar
com pessoas. Ganhar dinheiro e fazer sucesso depende dos outros, afinal… quem é
que vai investir em você? Quem é que vai aplaudi-lo? Quem é que vai comprar
seus produtos? É bom que fique claro que extroversão, em termos de negócio, não
é ser “aparecido”. Estamos falando em ganhar dinheiro, onde o sujeito tem claro
foco em fazer negócios, contatos, networking. Isso pode e deve ser treinado.
Afabilidade: aí é um item muito interessante. Mas muito
mesmo. Minha parceira Theresa, alemã, percebe no brasileiro uma característica
muito grande de cooperação e de evitar conflitos. Isto não ocorre no povo
germânico. E eu, que tenho origem japonesa e vivi três anos no Japão, também
garanto que não é uma característica nipônica. A questão não é dizer que ser
afável é certo ou errado. A questão é que a afabilidade pode ser extremamente
prejudicial para quem é líder, empreendedor, para quem quer ser um sucesso.
Como o mestre Nelson Rodrigues dizia, a unanimidade é burra. O líder sempre
desafiará opiniões, sempre terá que afastar pessoas, ser duro em várias
situações. Nada de mãozinha na cabeça. Isso é ótimo para pessoas que desejam
ser e permanecer assistentes administrativos, mas não para quem quer ser
sucesso.
Neurose: chegou o item que eu mais gosto. Herdamos também
cargas de “neurose”, que influenciam nossos pensamentos e emoções. Este item
diz sobre a capacidade que você tem de ter controle, estabilidade emocional.
Mede até que ponto você reage forte e negativamente diante das tensões da vida.
Quase todos nós somos mais ou menos neuróticos. A questão não é essa. Nem quer
dizer ser feliz e iluminado o tempo todo. Estamos falando de sucesso. A questão
é saber colocar as emoções de lado e fazer aquilo que é o mais correto sem
deixar-se interferir pelos seus medos, taras, ansiedade. Somos um povo muito
expansivo em relação às emoções, o que eu vejo com bons olhos. Adoro ver gente
sincera, estejam elas felizes ou tristes. Mas quando o assunto é agir diante de
um rombo no orçamento (e eu disse agir, e não ficar esperando enquanto a situação
se resolva de alguma forma), a capacidade de controlar a emoção é fundamental,
e diferencia os fracos dos fortes, os vencedores dos fracassados. É isso, não
há meio termo.
Todos estes atributos são trabalhados na constelação
sistêmica familiar e profissional, e podem ser modificados, principalmente
porque todos eles possuem um forte cunho emocional atrelado. Quando alteramos a
emoção, abrimos espaço para novos comportamentos.
(Alex Possato)