Entre alguns adultos há uma visão preconceituosa sobre a fase da adolescência como a fase da rebeldia. Por outro lado há também uma visão preconceitusosa do adolescente sobre os adultos como a fase da tirania.
Uma visão preconceituosa é o resultado da outra. É o que se pode chamar de conflitos de gerações. Na verdade não passa de um conflito de comunicações, mas não se resume somente a isto, apesar de começar por aqui.
Essa visão preconceituosa de ambos - adolescentes e adultos - é o que não permite uma aproximação saudável e empática entre estas duas fases da vida. Por vezes se faz uma aproximação desgastante e nada eficiente.
Se o responsável pelos adolescentes quiser proporcionar uma relação eficiente deve em primeiro lugar despir-se dos seus preconceitos sobre essa fase da vida do ser humano, para depois permitir-se compreender esse mundo de conflitos entre uma personalidade em formação.
Reações Emocionais na Adolescência
Muitas vezes, o adolescente reage à incompreensão de sua vida psicológica e à falta de uma comunicação empática que verse sobre seu desenvolvimento e necessidade de independência.
O adolescente reage ao cerceamento da sua individualidade. A individualidade está relacionada à inserção grupal, à identidade e à sexualidade. O adolescente requer autonomia para estar em um grupo onde o aceite, requer uma identidade reforçada por esse grupo e ainda busca o descobrimento de sua sexualidade como forma de contribuir com sua identidade.
Buscar essa inserção num grupo social e buscar autonomia para que esta inserção aconteça e haja uma aceitação grupal não é nada demais.
O problema começa quando essa aceitação num grupo social é resultado de uma incompreensão no seio da família ou quando essa necessidade de aceitação grupal se alia à construção de sua autoestima ou de sua identidade.
Como o adolescente está em processo de formação de identidade e de individualidade, há uma alta sugestionabilidade para grupos de comportamentos desviantes, como reação à tirania do autoritarismo dos pais que não o compreendem de forma plena.
Objetivos da Assessoria Psicológica com Adolescentes
Portanto, uma conversa com o adolescente deve permitir que ele tome uma visão introspectiva sobre si mesmo. Possibilitar que o adolescente se esclareça dos fatores de sua psique que fornecem estrutura à sua personalidade.
O responsável deve permitir ao adolescente uma conversa sobre si mesmo e consigo mesmo. Uma conversa sobre seus sentimentos, seus pensamentos, e seus grupos prediletos, sua relação com a autoridade parental e os porquês de suas reações indisciplinadas.
Como a necessidade de aceitação está nesse momento ligada à autoestima, não ser aceito pelo grupo é sinônimo de queda na autoestima ou de depressão. Por isso a relação entre adulto e adolescente deve tentar desvencilhar a necessidade de aceitação grupal da autoestima do adolescente.
Alguns comportamentos de desafio de autoridade podem estar dirigidos à aceitação num grupo especifico como uma forma de reação à sua busca pela individualidade que está cerceada na relação com o responsável.
Portanto, os pais devem se atentar para proporcionarem a aceitação do adolescente no seio da família, pois é isto o que ele busca por vezes.
Se o adolescente não é aceito dentro de casa, busca aceitação num grupo como forma de reagir à autoridade constituída. Esta aceitação diz respeito ao amor prático e genuíno que Jesus pregava.
Muitas vezes a atitude de desfiador e de rebeldia è resultado de uma reação quanto à inabilidade dos pais de o aceitarem como um ser em desenvolvimento rumo à individualidade.
Os pais o cerceiam por demais e uma reação explosiva do adolescente é o resultado de um pedido de socorro que visa buscar o seu autodesenvolvimento psicológico.
Um Psicólogo trabalha na assessoria dos familiares para ajustar o relacionamento familiar em direção à busca saudável da individualidade em formação, mas respeitando sempre seu momento de desligamento gradual da infância.
Um dos objetivos do Psicólogo é equilibrar para que não haja autoritarismo demais e nem libertinagem em excesso no processo de educação. Esse é um dos desafios para essa fase de vida do ser humano que é a adolescência.
A família deve proporcionar um desenvolvimento saudável da individualidade do adolescente. Em psicoterapia, o psicólogo busca o desempenho de um papel de facilitador e de assessor amigável, que se utiliza de princípios e de diretrizes técnicas como parâmetros para o desenvolvimento dessa individualidade em formação.
O Adolescente e sua Autopercepção na Família
Algumas famílias são aparentemente equilibradas psicologicamente, mas os adolescentes buscam caminhos de desafio às autoridades. Nesse caso específico um mecanismo de comunicação e de conscientização do processo de desenvolvimento psicológico do adolescente pode estar em falha.
Ter uma família equilibrada não é sinal de adolescente equilibrado e formado nos caminhos do Senhor. Muitos pais não erram na educação dos filhos, mas apenas não a apresentam de forma justa e presente com qualidade especifica na comunicação.
O adolescente precisa aprender a voltar os olhos sobre si e seus sentimentos a fim de que saiba lidar com impulsos e com necessidades de aventuras desmedidas que desconsiderem as limitações dos responsáveis. O aprendizado da introspecção (autoanálise) precisa vir da família.
Neste caso, um dos papéis do Psicoterapeuta é oferecer à família um canal de comunicação que verse especificamente sobre a psicologia daquele adolescente em formação, que verse sobre seus sentimentos, suas emoções e seus comportamentos.
Não ser entendido e compreendido pode ser um sinal de rebeldia futura. A adolescência é uma fase onde a necessidade de comunicar-se sobre si mesmo é alta, visto que é um processo de desenvolvimento psicológico muito grande.
Elementos do infante e da vida adulta se misturam, portanto, um olhar sobre si e sobre a própria psique necessita estar presente para um desenvolvimento mais saudável. Por isso essa comunicação deve versar entre o adolescente e a família e entre o adolescente e ele mesmo através da introspecção.
A Sexualidade na Adolescência
Há o descobrimento da sexualidade nessa fase, e a conversa sobre o próprio desejo é fundamental. Pais devem educar os filhos desde crianças para que se tornem adolescentes com mais conhecimento sobre a sua própria sexualidade.
Conversar sobre sexualidade não é somente oferecer informações, mas sim pôr o adolescente em contato com o seu desejo e com a forma com que se relaciona consigo e com os outros do sexo oposto.
Em alguns momentos, a necessidade de encontrar um namoro está inserida na ausência de vínculos afetivos no seio familiar. Nestes casos específicos, a saída está na busca de uma relação amorosa para a construção de laços afetivos compensadores da ausência familiar.
É importante que o Psicólogo busque orientar a família do adolescente quanto à educação sexual de seus filhos. A função desta tarefa não é apenas de informação, mas também de confrontação.
Isto possibilitaria ao adolescente pôr sob a fala alguma necessidade não satisfeita que é buscada inadequadamente numa relação amorosa.
A educação sexual deve ser uma conversa livre entre pais e filhos desde a infância com uma linguagem e conteúdos selecionados para cada faixa etária. Por educação sexual entende-se a temática que se estende desde a relação social com pessoas do sexo oposto até a relação amorosa.
Os Vínculos Entre Família e Adolescente
A natureza do laço social entre pais e adolescentes deve ser de amizade, de confiança e aceitação total de pensamentos, mas não de comportamentos – o que significa uma correção com amor e uma limitação com compreensão.
O entendimento da própria fase de vida é essencial. Para isso a técnica de espelhamento da fala, dos sentimentos e das emoções se torna útil. Adolescentes podem ser incompreendidos, visto que estão entre a responsabilidade da vida adulta e a saída da infância.
A rebeldia pode ser um sinal de busca pela autonomia. Deve-se lidar com isso através de conversa empática, mostrando que seu mundo é entendido e compreendido de forma total e eficaz.
Muitos pais falham com o aconselhamento desta fase, pois não fazem o primeiro passo de forma eficaz: demonstrar que os conflitos e questões psicológicas do adolescente são totalmente compreendidos e aceitos e não dialogam de forma livre sobre esse momento especifico de vida.
Muitos pais resistem em dialogar por receio de perder a autoridade sobre o adolescente. Dialogar e manter a autoridade em dia não são tarefas incompatíveis. Essa relação de autoridade e de limitação deve ser uma postura desde a infância, caso contrário, educar será uma tarefa mas difícil agora nessa fase de vida.
Um mito é que o adolescente não permite que se discorde dele, sendo rebelde e indomável. Esta não é uma característica que pertence somente a ele, mas pode ser resultado de uma relação interpessoal ineficaz, onde a empatia do adulto não está presente.
Perceber que os pais estão sendo empáticos é muito saudável para alguns adolescentes. Perceber que o adulto compreende e que entende totalmente a problemática apresentada por ele já pode ser uma boa garantia de que o comportamento desviante será corrigido.
Comportamentos Rebeldes
A empatia dos pais deve preceder a autoridade. Autoridade e empatia caminham juntas, mas em alguns casos se percebe o autoritarismo e antipatia na família, o que pode gerar estados de rebeldia no adolescente. Muitas vezes esse comportamento rebelde é sinal de incompreensão somente.
Portanto, em alguns casos se o adulto mostra-se na relação como um amigo empático essa rebeldia talvez se dissipe. Por vezes esse estado de rebeldia se extingue quando o adulto se mostra empático e neutro, sem criticas, mas com uma autoridade amiga e justa que conversa sobre o importante.
Não é a discordância dos pais em relação às atitudes do adolescente que vai proporcionar o estado de rebeldia, mas antes sim a incompreensão de seu estado psicológico atual, não deixando claro que o entende de forma plena.
A necessidade de ser entendido e aceito é muito maior do que a necessidade de autoestima por um grupo de fora da família. Portanto, alguns adolescentes vão buscar fora o que não possuem na família: a aceitação.
Isto pode ser o resultado da inabilidade de a família proporcionar ao adolescente um olhar sobre si mesmo e sobre seus sentimentos, ou seja, não saberem conduzir o adolescente para uma análise desse seu período de vida.
Vale deixar claro que compreensão e empatia não são sinais de libertinagem e liberalidade quanto à educação dos adolescentes, mas antes sim sinal de amor e de aceitação. Isto é tudo o que se precisa para esta fase da vida.
Como há uma personalidade em formação, os elementos da infância coexistem com os elementos da vida adulta. Responsabilidade e entretenimento coexistem. A família deve conversar com o adolescente sobre este momento de vida, apresentando ambas as características não como conflitantes, mas sim seu desequilíbrio.
Em alguns casos a Psicoterapia com adolescentes visa suprir o que faltou na família, em outros momentos municiar a família e em alguns casos fazer o papel que a família não pode alcançar por ter a situação de rebeldia saído do controle.
Adolescentes com Transtornos Específicos
Adolescentes vitimam de violências necessitam de um suporte emocional para elaborarem o trauma e para junto com os responsáveis darem o certo sentido dessa experiência invasiva que é o ato violento.
Não permitir que o adolescente forme pensamentos de generalização, tal como “todos os adultos são assim, desta forma, violentos” é o objetivo de uma relação terapêutica com adolescentes vítimas de violências.
A assessoria emocional e psíquica de um Psicólogo se torna necessária nesses casos. A evolução rumo à inserção social normal será lenta e gradativa e a simples presença de um adulto pode proporcionar o suporte de que precisa o adolescente.
Já adolescentes portadores de transtornos mentais específicos carecem tanto quanto um adulto de inserção social que vise o desenvolvimento de tarefas que proporcionem desenvolvimento da auto-estima e do sentido de pertença a num grupo especifico.
Numa situação de adolescentes portadores de transtornos mentais específicos, uma das tarefas de uma Psicoterapia é a de assessorar a inserção grupal e o relacionamento entre eles de forma saudável.
Desafios para a Educação de Adolescentes
Por fim, se percebe que essa é uma fase de vida que é marcada por preconceitos mútuos de adolescentes e de adultos. Uma fase de vida incompreendida e não-aceita tal como é. Uma fase de vida onde o ser humano é pressionado para ser aquilo que ainda não é e para deixar de ser aquilo que ainda não abandonou por completo: a fase adulta e a fase infantil respectivamente.
Relacionar-se com a adolescência é permitir-se parecer um pouco com eles, é permitir-se voltar no tempo e questionar-se sobre os conflitos específicos dessa fase e se despir dos preconceitos que cerceiam o entendimento integral dessa fase especifica de vida humana.
A Psicoterapia com o adolescente visa também assessorar o seio familiar no processo de educação do adolescente e possibilitar que se estabeleça um olhar crítico sobre as mútuas formas de comunicação, que se crie entendimento genuíno e a aceitação do processo de mudança.
Portanto, são esses os três fatores que podem ficar comprometidos na família quando há a presença de um adolescente: a comunicação familiar, o entendimento mútuo entre pais e filhos e a aceitação da autonomia do adolescente.
Restaurar isto é o objetivo principal de uma Psicoterapia com adolescentes e isso se faz no instante em que o Psicólogo possibilita ao adolescente expressar seus medos e receios das mudanças pelas quais está passando no momento.
O Psicólogo deve permitir que o adolescente – a partir da análise das relações sociais que estabelece e a partir da análise sobre os próprios sentimentos e pensamentos – que se perceba enquanto um ser em desenvolvimento de identidade.
Esta comunicação saudável deve permitir o esclarecimento dos contratos familiares. O entendimento deve proporcionar um contato mais próximo entre a vida afetiva de pais e filhos e a aceitação visa estreitar os laços familiares e dirimir o medo que os pais possuem de perder uma criança que agora se torna um adulto autônomo e portador das próprias escolhas.